sábado, 30 de abril de 2011

Eu, passarinhado.

Sou passarinho que acabou de sair do ninho, e ainda não sei como saí. Se fui jogado ou se foi por intermédio natureza, da minha natureza.
Asas frágeis, sem treino. Pernas finas e fracas, fracas até para suportar meu pequeno peso. Penas ralas e espaçadas ainda me acompanham. São marcas da minha pouca experiência
O fato é que, nessa sede de voar, mesmo com a inexperiência, alcancei alturas maiores do que deveria, e olhando lá de cima, de onde tudo parece menor, tive medo.
Meus semelhantes, passarinhos de notável pequenez, lá de cima, parecem ainda bem menores; meu medo, era que a perspectiva desse olhar me fizesse acreditar que eu maior em outros sentidos. Eu não nasci pra ser maior. Quero ser igual. Passarinho passarinhado mesmo.
Lá em cima não é lugar de passarinho recém saído do ninho, é lugar de passarão, de predador. Aves grandes e perigosas, com garras imensas, bicos com fios de corte afiados o fuficiete pra deixar marcas pra vida toda. As unicas marcas que quero, são as que o vento vai deixar quando pentear minhas penas, reflexos de onde andei enquanto eu me procurava.
Eu, ultimo ovo do ninho, chocado e criado com atenção, resolvi que quero voar mais baixo. Não é só por medo. É também pra poder voar mais longe. Passarinho por passarinho, também não quero voar sozinho. Quero fazer aquele V na imensidão do céu azul e ir cada vez mais ao centro desse Cruzeiro do Sul, encontrar a estrela menor, mas que não se apaga e nem perde o valor. Mesmo sendo a estrelinha estrelinhada, se ela morrer, não será mais Cruzeiro. Passarinho pequeno, não é passarinho menor.